A Vida com Sentido: Sentir o Propósito e a Saúde Psicológica
Sabemos que a Saúde (física e psicológica) e o bem-estar dependem muito dos nossos comportamentos – por exemplo, manter uma alimentação saudável e uma boa higiene de sono, praticar exercício físico e realizar actividades de lazer. Mas, mesmo quando estas necessidades básicas estão preenchidas é natural sentirmos que há coisas em falta, é natural desejarmos algo mais.
Vários estudos comprovam que existe um outro ingrediente essencial à nossa Saúde Psicológica e bem-estar: um sentido de propósito. Já todos nos confrontámos com questões como “Qual é o sentido da minha vida?”, “O que é que ando aqui a fazer?”, “Existe uma missão de vida para cada pessoa? Qual é a minha?”.
Estas perguntas surgem, frequentemente, em momentos em que nos sentimos menos bem e podem estar relacionadas com a ideia de que a vida não vale a pena. Boa parte das nossas acções e comportamentos decorre da tentativa de encontrarmos um sentido para a nossa vida e compreendermos porque estamos aqui (enquanto cá estamos). Esta procura é uma parte natural e significativa da experiência humana, que é comum às pessoas de todas as culturas e de todos os períodos históricos.
Dar um sentido e um propósito à nossa vida significa perceber o que é mais importante para nós, o que influencia mais o nosso comportamento e orienta as nossas decisões (por exemplo, cuidar dos outros, deixar a “nossa marca”, realizar actividades que nos dão prazer e que nos façam sentir valorizados). E isso influencia também a forma como damos significado e interpretamos o que nos vai acontecendo ao longo da vida.
A procura de significado para a nossa vida pode ser um processo mais voltado para o nosso interior (para a autoconsciência, a espiritualidade ou a realização pessoal) ou para o exterior (para os outros – os filhos, a comunidade). Por exemplo, muitas pessoas encontram no trabalho, na profissão, um sentido para a sua vida, comprometendo-se profundamente com as tarefas que desenvolvem. Para outras pessoas, o trabalho é apenas um meio de assegurarem a subsistência e o seu compromisso reside noutras dimensões da vida, como a família ou a comunidade em que estão inseridas.
Seja ele qual for, ter um propósito para a nossa existência pode ajudar-nos a ter uma vida mais saudável, mais plena e mais feliz:
- Ajuda-nos a definir os nossos valores, a sentir entusiasmo pelos objectivos que traçamos para nós próprios, a melhorar a nossa autoconfiança e auto-estima, a sentir gratidão por aquilo que conseguimos realizar e a aproveitar melhor cada dia.
- Ajuda-nos a aumentar a eficácia na gestão do stresse, no autocuidado e na adopção de comportamentos saudáveis e, em termos gerais, a melhorar a Saúde Física e Psicológica.
- Procurar actividades com significado para nós também pode fazer diminuir factores de stresse como as pressões familiares e o stresse laboral, a probabilidade de desenvolvermos doenças como os problemas cardiovasculares ou a demência, bem como melhorar a nossa memória e satisfação com a vida.
- E não só: um estudo recente concluiu que ter um sentido de propósito diminui o risco de mortalidade em cerca de 17%.
Ter um sentido de propósito é benéfico para pessoas de todas as idades. Para os jovens e adultos, mas também para os cidadãos sénior. No caso destes últimos, diversos estudos mostram que quando atribuem um sentido à sua vida têm menor probabilidade de desenvolver demências, ataques cardíacos ou AVCs, bem como apresentam um melhor funcionamento cognitivo e maior probabilidade de viverem mais tempo.
Contudo, encontrar um sentido de propósito para a nossa vida não é tão simples como fazer uma caminhada ou preparar uma refeição saudável. Esta procura acontece e vai-se transformando ao longo de toda a nossa vida, é um processo em permanente construção, que pode ser modificado por acontecimentos e momentos importantes (como terminarmos uma relação, a morte de alguém que nos é próximo, ficarmos desempregados, a reforma ou o nascimento/saída de casa dos nossos filhos, por exemplo).
É fundamental que a procura de um sentido para a vida não se transforme numa tarefa geradora de stresse, ansiedade e sofrimento. Na verdade, pequenos objectivos podem ser fonte de propósito para a nossa vida (por exemplo, cuidar de um animal de estimação ou tratar de um jardim).
Algumas sugestões podem ajudar-nos a identificar e a viver uma vida com sentido:
Por exemplo, relação romântica, família/filhos, amigos/vida social, vida profissional, formação, lazer, espiritualidade, cidadania/vida comunitária, autocuidado, expressão artística, quanto à sua importância para nós (por exemplo, numa escala de 1 a 10, sendo que 1 = menos importante e 10 = muito importante). Não há respostas certas ou erradas; interessa o sentimos sobre estas ou outras dimensões.
Procurar e identificar experiências positivas que tenhamos tido na nossa vida, para além de aumentar o nosso bem-estar, também nos pode ajudar a perceber o seu impacto e a identificar dimensões relevantes para a nossa vida e sentido de propósito.
As relações são uma fonte incrível de significado para os seres humanos. Passar tempo e partilhar experiências com familiares e amigos pode ser, por si só, fonte de significado para a nossa vida, bem como procurar actividades/grupos que nos façam sentir parte de algo maior do que nós próprios e nos façam sentir validados e valorizados.
Por exemplo, participar em acções de voluntariado ou em projectos comunitários.
Definir claramente objectivos para as várias dimensões da nossa vida (trabalho, família/amigos e lazer).
Reservar tempo e espaço para cuidarmos do nosso bem-estar físico e psicológico, para realizar actividades que nos dêem prazer e reforçar a nossa resiliência. E também para desenvolvermos o autoconhecimento, a relação connosco mesmos.
Embora a religião possa fazer parte da espiritualidade, esta vai além da religião. Trata-se de desenvolver uma relação positiva com o que nos rodeia, desenvolver o sentido de empatia e solidariedade, sentir que todos e todas as coisas estão relacionados.
Experimente este exercício!
Sente-se confortavelmente com papel e caneta ou um computador, mas sem outras distracções. Realize as 3 actividades que sugerimos sem apagar/corrigir, sem se criticar ou se limitar. Escreva apenas tudo o que lhe vier à cabeça. E leia a actividade seguinte apenas após completar a anterior.
1 – Imagine que está no futuro e que tem 100 anos. Tudo na vida lhe correu bem e como desejava. Esforçou-se muito e atingiu todos os seus objectivos de vida, realizou todos os seus sonhos. Escreva sobre o que imaginou.
2 – Continue a imaginar que tem 100 anos, mas agora tem acesso a uma máquina do tempo e viaja até precisamente este momento. Que conselhos é que o seu Eu do Futuro daria ao seu Eu do Presente? Escreva-os a todos.
3 – Com base dos conselhos que recebeu do seu Eu do Futuro crie uma lista de 3 acções que possa começar já a realizar.
O sentido e propósito para a nossa vida não se encontra num dia ou em 20 anos. Vai-se encontrando, ao longo da vida. Não são precisos objectivos ou acções que transformem radicalmente a nossa vida, podem ser pequenos passos, comportamentos e acções que vão preenchendo a nossa vida de bons momentos e bem-estar. dia ou em 20 anos.