Sou um trabalhador independente
(ou quero desenvolver um projecto)
Ser Empreendedor
Muitos trabalhadores independentes veem por vezes os seus projectos e colaborações com empresas suspensos ou com fraca capacidade de gerar receita que permita fazer face às despesas.
Os trabalhadores independentes poderão recorrer a apoios financeiros especiais criados para o efeito (consulte alguns links sugeridos) que atenuem este impacto mas, mais importante, é reorganizar o trabalho de forma a poder manter actividade, ou alterar o foco dos seus esforços ou o alvo dos seus projectos.
Esta pandemia gerou novas necessidades, algumas delas com uma resposta em défice, outras com ausência de resposta.
- Pense nos recursos que tem ao seu dispor (sejam recursos físicos, tais como equipamento, ou recursos técnicos, desde o conhecimento que detém sobre determinado assunto ou competências para intervir numa determinada área).
- Pense como pode ajustar a sua forma habitual de prestação de serviços para um modelo que requere: distância, entrega ao domicílio (se aplicável), funcionar com menos pessoas ou sem alguns recursos habituais.
Modelos de Negócio
Um ponto de partida será utilizar um modelo de negócio. Se já tem um modelo de negócios construído poderá adaptá-lo agora.
Existem vários modelos de negócio, sugerimos um pela sua simplicidade e acessibilidade – pesquise por “modelo canvas” (ou em inglês “canvas business model”).
O Modelo de Negócio Canvas é um possível enquadramento lógico pelo qual uma organização ou projecto pode criar e acrescentar valor aos seus clientes. Este modelo de negócios consiste numa tela visual, constituída por nove blocos que cobrem as quatro principais áreas de um negócio: Clientes (para quem?), Oferta (o que faço?), Infraestrutura (como faço?) e Viabilidade Financeira (quanto?).
Este modelo permite, de forma focada e visual, criar, descrever, testar e/ou reinventar o seu modelo de negócio. No final do seu preenchimento terá um modelo de negócio mapeado de forma consistente e terá ainda treinado, ao longo do processo, o seu pitch.
Como pode começar:
- Identifique o desafio/problema que tem em mente (se escolhermos algo em que acreditamos realmente, isso levará a que tenhamos mais motivação e perseverança).
- Crie uma frase sucinta /uma hipótese a ser validada, capaz de guiar a construção do modelo.
- Seleccione a Ideia (é o protótipo da solução, usando a experiência e intuição).
- Comece a construir o Modelo Bussiness Model Canvas (que serve de ferramenta para validar esta nova ideia).
- Conte a história (o Canvas ajuda-o a preparar os pontos-chave que têm de ser transmitidos ao interlocutor num pitch) de forma a apresentar o porquê, o como e o quê.
Preencha cada um dos 9 Blocos do Modelo, pensando em:
São os diferentes Grupos ou Pessoas que se pretende servir ou ajudar. Devemos identificar todos os segmentos possíveis de clientes (sendo que, cada um representa grupos distintos e as suas necessidades exigem ofertas distintas), depois seleccionar os segmentos mais importantes, tendo por base aquele que poderá ter maior potencial para gerar clientes rentáveis. Não é produtivo pretender alcançar todos os segmentos possíveis, pelo que esta selecção é fundamental.
A questão é “a quem prestamos este serviço?”.
Os recursos são importantes para entregar a proposta de valor. Os recursos podem ser físicos, humanos (técnicos, comerciais, designers), intelectuais (como a marca, patentes ou propriedade do conhecimento) ou financeiros (por exemplo, linhas de créditos ou financiamento).
A questão é “Como materializamos o nosso serviço? Com que recursos?”
Devemos pensar quais as relações que cada segmento espera que estabeleçamos e mantenhamos com eles (podem ser pessoais ou automáticas e vão desde a assistência pessoal, criação de comunidades/fóruns ou serviços automáticos).
A questão é “Como vou chegar e relacionar-me com os meus clientes?”
Os canais são a interface de uma empresa com os clientes. Eles servem como principais pontos de contacto que determinam a satisfação do cliente.
Tipos de canais: Serviços/ vendas pela Web, lojas próprias, lojas próprias de parceiros e deverão assegurar a consciência da Avaliação, Compra, Entrega e Pós-Venda.
A questão é “Como entregamos o nosso serviço? Como chegamos aos clientes?”.
As actividades são as acções mais importantes para a operacionalização e, por vezes, necessitam de alianças estratégicas.
A questão é “O que é o meu serviço? Como se caracteriza?”
É necessário estabelecer parcerias para reduzir riscos ou adquirir conhecimentos ou recursos. Podem ser feitas:
- Parcerias com entidades não competidoras;
- Parcerias estratégicas com entidades competidoras;
- Empreendimentos conjuntos para desenvolvimento de novos negócios.
A questão é “Com quem trabalho?”.
Devemos identificar e descrever os fluxos de receita necessários para entregar a proposta aos clientes e pensar por que valor o segmento irá pagar por esse serviço (se utilizaremos lista de preços definidas, alguns descontos, preços flexíveis de acordo com o mercado ou dependente do volume de serviço bem como se existirão diferentes taxas consoante a complexidade do serviço).
A questão é “O que vou ganhar e como?”.
Os modelos orientados para os custos concentram-se em minimizar os custos, sempre que possível, para criar uma estrutura de custos baixa. Os modelos orientados para o valor concentram-se na criação de valor e estão menos preocupados com o custo de entrega da Proposta de Valor.
Muitos modelos de negócios são uma combinação de ambas as abordagens, mas quase todos os modelos de negócios têm de escolher uma abordagem dominante.
Estruturas de custo normalmente incluem custos fixos e custos variáveis, com ênfase no aproveitamento de economias de escala.
A questão é “Que gastos vou ter e em quê?”.
A identificação da proposta de valor é tipicamente um processo desafiante e fundamental para o desenvolvimento consistente de um negócio.
A Proposta de Valor é uma ferramenta facilitadora para levar a cabo esta tarefa e deverá ser utilizada após a definição do Perfil do Cliente porque é através dela que é possível criar a confiança e lealdade dos clientes.
Ao criar a proposta de valor obtém-se a descrição:
- dos produtos e serviços;
- de como os produtos e/ou serviços geram benefícios e criam ganhos para o seu cliente;
- de como os seus produtos e/ou serviços podem reduzir o problema específico do seu cliente.
Algumas propostas de valor podem ser inovadoras e criar uma ruptura com outras ofertas, mas também podem ser similares a outras que já existem e, simultaneamente, acrescentar outros atributos (por exemplo, em termos de rapidez ou preço).
A questão é “Qual a minha proposta e que valor acrescento com o que proponho aos meus clientes?”.
O Mercado. A que Necessidades dou Resposta?
Para poder REFLECTIR sobre o mercado de trabalho em que se insere ou quer inserir, sugerimos como ponto de partida uma Análise SWOT, através da qual, para além de poder identificar as forças e fraquezas da sua actividade, irá procurar identificar as oportunidades e ameaças do mercado.
Considere o momento actual da economia e do estado geral do mercado com o impacto da pandemia COVID-19, pois aquilo que fazia sentido no início do ano poderá hoje não resultar. Mantenha-se informado e acompanhe a actualidade através de fontes credíveis. Identifique, por exemplo, novas necessidades que emergem e que podem carecer de resposta.
Orçamento e Sustentabilidade Financeira
Se não tem ainda um orçamento para a sua actividade independente faça-o; é a melhor forma de poder planear com sustentabilidade e poder tomar decisões fundamentadas sobre a (re)estruturação da sua actividade.
Pode ser difícil estimar valores quando os rendimentos são incertos ou variáveis, mas faça-o com o valor mínimo que espera e parta daí. Vá monitorizando os valores e, assim que tenha mais dados, actualize o seu orçamento.
Liste as despesas regulares, tais como: aluguer de espaço, custos com viagens e deslocações, telecomunicações, seguros, impostos, etc. Não se esqueça de contemplar o seu próprio vencimento (afinal é esse o motivo pelo qual está a trabalhar – ter o seu próprio rendimento e sustento). Partindo daí, sabe que tem de procurar que o seu negócio tenha rendimento suficiente para cobrir estas despesas-base.
Algo que deverá contemplar nos seus planos (ainda que pareça um contra-senso) é o imprevisto. A melhor forma de o fazer é garantir que tem um “fundo de emergência”, ou seja, que consegue ir poupando e guardando uma porção dos seus ganhos para suportar gastos imprevistos. Na situação específica da pandemia existem alguns apoios criados pelo Estado a pensar nos trabalhadores independentes (consulte alguns dos links sugeridos).
Recorra à tecnologia para o ajudar nesta gestão. Uma folha de cálculo de excel ou um software ou app específicos ajudarão a acompanhar todas as suas despesas e rendimentos. Cada rúbrica do seu orçamento terá um valor previsto (mensal ou anual – veja como faz mais sentido organizar-se). Depois, à medida que vá fazendo despesas ou obtendo rendimentos, vai anotando e fazendo a comparação em relação ao que tinha orçamentado.
Procure ter fluxo de caixa (cash-flow), ou seja, ter liquidez. Deste modo, não estará somente dependente de pagamento por parte dos seus clientes (que, dependendo do sector e/ou do cenário, poderão demorar algum tempo até lhe transferirem o valor dos serviços prestados ou bens fornecidos).
Informe-se sobre todos os impostos e taxas que tem de pagar e inclua-os no seu orçamento. Esteja ciente de todos os prazos para se conseguir organizar e fazer face às suas obrigações. É preferível estar a contar com esses pagamentos e fazê-lo atempadamente do que ficar a adiar o seu pagamento e ficar sujeito ao pagamento de juros de mora ou multas ou, pior, arriscar uma execução fiscal.
O mais importante de tudo é manter-se organizado. Tenha todos os documentos organizados em pastas (sejam arquivos físicos em dossiers ou digitais no seu computador – neste segundo caso tenha sempre cópias de segurança!), pois ser trabalhador por conta própria significa desempenhar também esta função administrativa. Se descurar a sua documentação poderá ficar com a sua vida dificultada se precisar de apresentar documentação para se candidatar a algum tipo de apoio, para fazer a sua declaração de rendimentos, ou para prestar determinado esclarecimento a fornecedores ou clientes.
Marketing profissional e comunicação com clientes, fornecedores, parceiros
O Marketing Profissional consiste em, intencionalmente, se procurar construir uma “marca”, e assim projectar uma imagem pessoal e profissional que nos seja favorável.
Muitas pessoas associam ao marketing profissional uma ideia negativa (“Eu não quero ter de me estar a vender”).
A realidade é que estamos sempre a deixar a nossa impressão, a nossa marca pessoal e profissional. Mesmo quando não comunicamos, estamos a comunicar. Deste modo, porque há-de optar por passar uma imagem e uma mensagem que não controla? Preferirá, com certeza, contribuir positivamente para os seus objectivos profissionais, pelo que, pensar sobre a comunicação intencional dos seus serviços é fundamental.
De acordo com o que preencheu no seu modelo de negócio, terá informações que o ajudarão a pensar que ferramentas de marketing (de imagem e de comunicação) serão as que melhor o ajudam a chegar aos seus clientes, parceiros e fornecedores.
Pense em comunicação online (site, redes sociais, publicidade online, mailing-lists) e/ou offline (flyers, cartões de visita, presença em feiras/congressos, publicidade em jornais regionais e nacionais) e transversalmente no networking.
Contemple ainda o perfil das pessoas com quem pretende comunicar, pense na sua “marca” e na imagem que quer consolidar e transmitir. Não se esqueça de incluir as eventuais despesas com estes aspectos no seu orçamento.
Um dos aspectos a ter bem preparado e definido, independentemente das plataformas que escolha para comunicar, é o pitch de apresentação do seu projecto ou conjunto de serviços.
Atitude empreendedora. Resiliência e persistência.
Iniciar um projecto próprio ou integrar um projecto já existente enquanto trabalhador independente ou, até, face a descontinuidade de trabalho por conta de outrem, ponderar um novo posicionamento no mercado, de forma autónoma, são exemplos do chamado empreendedorismo.
Para muitos esta é a única realidade profissional em que se conseguem projectar, mas para outros, este posicionamento é visto como um caminho de incertezas e de risco, incompatível com a estabilidade desejada.
No entanto, a realidade não é dicotómica, sempre existiram ideias de negócio com imenso potencial que não vingaram, outros projectos com ideias menos fortes, cresceram e continuam a dar uma resposta alargada. Mas o que poderá diferenciar estas duas realidades?
Em muitos dos casos, estas realidades diferentes têm a ver com a atitude empreendedora.
A atitude empreendedora está relacionada com uma necessidade do individuo de criar as suas oportunidades, face à realidade em que vive e apostar no desenvolvimento continuo das suas competências de forma estratégica, para melhor se posicionar no mercado.
A realidade e as necessidades de bens e serviços é dinâmica e alvo de variáveis não controláveis, como é o caso da actual situação em que vivemos devido ao vírus da COVID-19.
Esta realidade poderá ter um impacto significativo para quem exerce a sua actividade enquanto trabalhador independente, colocando à prova a atitude empreendedora e as capacidades de resiliência e persistência de cada um.
A resiliência está relacionada com a flexibilidade e consequente adaptação a uma nova realidade, mesmo quando esta não é exactamente como esperava. Mas é esta capacidade que lhe permite reflectir sobre esta nova realidade, sobre os obstáculos que surgem, novas soluções e como transformar momento de crise em momentos de oportunidade, sem dar lugar ao pessimismo que impossibilita a acção.
A persistência permite-lhe ao analisar a actual situação e ao definir novos planos mais ajustados, seguir os seus objectivos de forma continuada, porque todas as alterações que possa ter de realizar na sua forma de trabalhar e nos seus projectos, requerem uma atitude activa e contínua para que possam ter sucesso, e não são implementados de um dia para o outro.