Reportar Problemas de Saúde Psicológica – Recomendações

  1. Normalizar dificuldades e problemas de Saúde Psicológica, enfatizando que são comuns e tratáveis.
  1. Utilizar uma linguagem apropriada e respeitosa ao falar sobre pessoas com problemas de Saúde Psicológica, utilizando uma terminologia correcta e precisa.
  1. Não reforçar estereótipos e mitos sobre os problemas de Saúde Psicológica, nomeadamente nos headlines e leads, diminuindo assim o risco de associar os problemas de Saúde Psicológica a histórias sensacionalistas e de reforçar o estigma.
  1. Procurar aceder a factos, estatísticas e outras informações relacionadas com problemas de Saúde Psicológica que sejam fiáveis, recorrendo a fontes credíveis (Psicólogos e/ou literatura científica).
  1. Procurar os comentários ou conselhos de profissionais de saúde, nomeadamente Psicólogos, especialistas nos problemas de Saúde Psicológica em causa. Existe muita investigação associada à ciência psicológica, por isso estão sempre a sair novas evidências científicas e informações sobre os problemas de Saúde Psicológica, os seus sintomas e tratamentos. Deste modo, uma história pode ser melhorada com o comentário de um especialista que ofereça interpretações adequadas e informações correctas.
  1. Ponderar a referência a questões associadas à Saúde Psicológica quando não existe informação fidedigna ou quando a relevância dessas questões não é clara.
  1. Quando a história versa os problemas de Saúde Psicológica, verificar se esses problemas são representados de forma justa e equilibrada. Por exemplo, assegurar que a história não exagera os problemas de Saúde Psicológica ou os efeitos que eles possam ter na vida e no comportamento das pessoas.
  1. Incluir a voz e os comentários de pessoas que têm problemas de Saúde Psicológica. Quando a reportagem é sobre este assunto, é desejável procurar incluir a voz de alguém com experiência nesse problema de Saúde Psicológica, até porque o “elemento humano” tornará a história mais interessante. As pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica devem ser incluídas como contributo para a história e não apenas como soundbites.
  1. Promover a esperança, destacando histórias de pessoas que superaram problemas de Saúde Psicológica, sublinhando a existência de tratamento/solução e a importância de pedir ajuda.
  1. Avaliar as consequências que podem existir para a saúde e o bem-estar da pessoa alvo da história se os seus problemas de Saúde Psicológica forem revelados publicamente.
  1. Contextualizar a descrição dos problemas de Saúde Psicológica. Escrever sobre alguém que vive com um problema de Saúde Psicológica, a sua vida, e não apenas o seu problema de Saúde Psicológica. Estas pessoas, como todas as outras, também têm famílias, trabalho, opiniões e tempos livres. Escrever sobre as pessoas no seu contexto pode tornar a história mais interessante e aproximá-las do público.
  1. Quando existe violência envolvida, explicar o seu contexto. Existe uma ideia popular pré-concebida que associa os problemas de Saúde Psicológica à violência. Os factos, no entanto, não confirmam este preconceito. Por isso as histórias devem evitar que, implicitamente seja passada a mensagem que as pessoas com problemas de Saúde Psicológica são violentas. Na realidade, é muito mais provável que as pessoas com problemas de Saúde Psicológica se magoem a si próprias do que aos outros. Por exemplo, pessoas com um diagnóstico de Esquizofrenia são 100 vezes mais perigosas para si próprias do que para os outros: o risco de alguém com este problema magoar com gravidade ou matar outra pessoa foi calculado em 0,005%, enquanto o risco dessa pessoa em suicidar-se atinge os 10%.

O preconceito e a discriminação atingem ainda muitas pessoas com problemas de Saúde Psicológica, frequentemente rotuladas de “malucas/os”, “desequilibradas/os” ou doentes, aumentando ainda mais a sua vulnerabilidade. Os Media têm um papel fundamental na adequação da linguagem, aplicando os mesmos padrões e cuidados que aplicam ao sexismo, racismo e homofobia à Saúde Psicológica.

Determinado tipo de linguagem pode contribuir para estigmatizar as pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica e associar este tipo de problemas a ideias erradas e imprecisas. Termos como “esquizofrenia” ou “bipolaridade” são rótulos para o problema, e não para o indivíduo. Descrevem circunstâncias de vida, da mesma forma que expressões como pobreza, violência doméstica, intimidação ou abuso. Por isso, é fundamental que os media utilizem linguagem correcta, que não discrimine nem humilhe as pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica.

    A EVITAR   A UTILIZAR
Determinado tipo de linguagem sensacionaliza os problemas de Saúde Psicológica e reforça o estigma Expressões como “paciente mental”, “doente mental”, “maluco”, “doido”, “lunático”, “psico”, “psicopata”, “esquizo”, “demente” A pessoa “vive com”, “tem Problemas de Saúde Psicológica” ou ainda “tem um diagnóstico de problemas na área da Saúde Mental”
Terminologia que sugere que as pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica têm uma má qualidade de vida Referir-se a alguém que tem um problema de Saúde Psicológica como “vítima”, “sofre com” ou é “afectada por problemas de Saúde Psicológica” A pessoa “está a ser alvo de intervenção por problemas de Saúde Psicológica” ou “tem problemas de Saúde Psicológica”
Definir e rotular a pessoa com o seu problema de Saúde Psicológica A pessoa é “esquizofrénica” ou “anoréctica” ou “deprimida”, tem “handicaps mentais” ou é “doente mental” A pessoa “tem um diagnóstico de” ou “está a ser tratada por”, “vive com” ou “experiencia neste momento”
Descrições de comportamento que implicam a existência de problemas de Saúde Psicológica ou que são incorrectas Utilizar palavras como “louco”, “demente”, “maluco” ou “psicótico” O comportamento da pessoa foi invulgar ou errático
Coloquialismos sobre o tratamento podem dificultar a procura de ajuda Utilizar palavras como “comprimidos mágicos”, “médico da cabeça” ou “instituições mentais” Terminologia adequada e correcta, por exemplo, antidepressivos, hospital de Saúde Mental, Psiquiatras e Psicólogos
Terminologia usada fora do contexto aumenta a falta de compreensão e trivializa os problemas de Saúde Psicológica Utilizar termos como “economia esquizofrénica” ou “deputada ou deputado autista”. Procurar evitar frases que usem termos psiquiátricos ou psicológicos de forma incorrecta e fora do contexto
Terminologia científica adequada Utilizar expressões como “estava triste e em baixo” Uma pessoa sentir-se “em baixo” não é a mesma coisa do que uma pessoa ter um diagnóstico clínico de depressão

Os Media podem inadvertidamente contribuir para o estigma em torno dos problemas de Saúde Psicológica por meio de imagens exageradas, imprecisas ou desadequadas usadas para retratar pessoas com problemas de Saúde Psicológica. As imagens que são utilizadas para ilustrar histórias relativas a problemas de Saúde Psicológica podem ser tão prejudiciais como as palavras. Algumas reportagens com bom conteúdo e valor educativo podem até ser enfraquecidas pelo uso desadequado de imagens.

Por exemplo, a maior parte das pessoas com problemas de Saúde Psicológica nunca necessitará de ser internada, por isso a utilização de imagens de hospitais pode ser enganadora. Da mesma forma, muitas pessoas com problemas de Saúde Psicológica não tomam medicamentos, por isso, imagens de comprimidos também podem não ser apropriadas.

As imagens que acompanham estas reportagens são frequentemente retiradas de arquivos de imagem e retractam pessoas isoladas e em sofrimento – o que nem sempre corresponde à realidade e pode ajudar a aumentar o estigma e a discriminação enfrentados pelas pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica. Nesse sentido, o ideal é encontrar uma imagem o mais inócua e adequada à realidade possível.

As pessoas que têm problemas de Saúde Psicológica são pessoas como quaisquer outras, com a mesma aparência e características físicas, que sorriem e riem e desempenham uma miríade de tarefas no quotidiano.

Se tivéssemos de escrever uma história sobre as dificuldades de alguém que vive numa cadeira de rodas, a primeira coisa de que nos lembraríamos seria falar com uma pessoa nessa situação. Da mesma forma as histórias sobre pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica devem incluir as suas vozes e pontos de vista. “Dar voz” às pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica significa contribuir para um jornalismo de excelência e tornará a história mais interessante e completa.

Ignorar a voz das pessoas com problemas de Saúde Psicológica aumenta o risco de alienar um quinto dos leitores ou espectadores. Pelo contrário, incluir as pessoas que experimentam problemas de Saúde Psicológica ajuda a destruir o mito de que “não são como as outras” e a dicotomia “nós, saudáveis” versus “eles, com problemas”.

  1. Não assumir que sabe como é que a pessoa se sente ou devia sentir. Mesmo que conheça alguém com o mesmo problema ou inclusivamente já tenha passado por ele, cada um experiencia de forma diferente os problemas de Saúde Psicológica.
  1. Mostrar empatia, sensibilidade e discrição. Mesmo que a pessoa mostre boa vontade em falar, nem sempre é fácil partilhar problemas pessoais.
  1. Preferir questões abertas. Podem deixar a pessoa mais à-vontade e permitir recolher mais informação.
  1. Permitir à pessoa sugerir o local onde vai ser entrevistada, sendo que locais muito movimentados ou cafés públicos podem fazer a pessoa sentir-se desconfortável. Permitir à pessoa levar consigo um amigo ou familiar, caso isso torne a situação de entrevista mais confortável.
  1. Garantir que a pessoa compreende que o seu nome ou diagnóstico serão tornados públicos, caso seja esse o caso e que a pessoa se encontra num estado emocional que permita dar o seu consentimento informado para que tal aconteça.
  1. Não entrevistar pessoas que possam, nesse momento, não estar em contacto com a realidade devido, por exemplo, a um episódio psicótico.

  1. Apresentar as Perturbações do Comportamento Alimentar (como a Anorexia ou a Bulimia) enquanto problemas de Saúde Psicológica complexos com consequências físicas e psicológicas graves, e não como escolha de um estilo de vida.
  1. Focar o impacto e consequências das Perturbações do Comportamento Alimentar na própria pessoa e seus familiares.
  1. Incluir imagens ilustrativas que representem diferentes tamanhos e tipos de corpos, em vez de usar apenas imagens de pessoas com peso excessivo ou extremamente deficitário (este tipo de imagens pode motivar pessoas mais vulneráveis a tentar atingir um peso ou corpo irrealista).
  1. Discutir os comportamentos das pessoas com este tipo de perturbação (por exemplo, os comportamentos purgativos) de forma generalista, sem referência aos passos tomados, frequência dos comportamentos ou outros detalhes (a especificação deste tipo de comportamentos pode fazer com que pessoas mais vulneráveis os adoptem). Por exemplo, dada a natureza competitiva e autocrítica característica das pessoas com perturbações do comportamento alimentar, é provável que passar informação sobre o peso mais baixo que determinada pessoa atingiu, as possa levar a considerar esse peso como objectivo e a culparem-se por ainda não o terem conseguido atingir, ou mesmo julgarem que se estivessem suficientemente doentes o seu peso seria inferior àquele reportado pelos Media. De forma semelhante, a indicação da quantidade de comida ingerida (por exemplo, “comia apenas metade de uma maçã por dia”) pode funcionar como um encorajamento à restrição alimentar.
  1. Não rotular a pessoa com o seu problema, apresentar estas perturbações com qualquer glamour ou como uma opção para lidar com as dificuldades e problemas.
  1. Consultar um especialista em Perturbações do Comportamento Alimentar, nomeadamente um Psicólogo.
  1. Promover a procura de ajuda, disponibilizando informação nesse sentido.
  1. Se houver conhecimento que os materiais resultantes da entrevista são partilhados com outros Media, informe o entrevistado, para que não seja surpreendido pelo facto da sua história aparecer noutros contextos.

Os comportamentos de automutilação são actos deliberados e intencionais, constituindo lesões auto-infligidas com o objectivo de, provocando dor, lidar com emoções negativas ou comunicar sofrimento aos outros.

Os comportamentos de automutilação não resultam em morte. São actos distintos do suicídio, embora algumas pessoas que se auto mutilam possuam um risco mais elevado de suicídio. Este tipo de comportamentos deve ser sempre encarado de forma séria, uma vez que podem ser fisicamente perigosos e sinalizar problemas de Saúde Psicológica.

  1. Minimizar as descrições detalhadas dos métodos de automutilação. Se for importante para a história, discutir os métodos em termos gerais, utilizando expressões como comportamentos de automutilação ou auto lesivos. As descrições explícitas têm sido associadas a comportamentos de imitação.
  1. Assegurar precisão e equilíbrio: uma reportagem equilibrada que ofereça insight sobre as realidades dos comportamentos de automutilação pode aumentar a compreensão do público e reduzir o estigma associado aos comportamentos auto lesivos.
  1. Não perpetuar estereótipos, incluindo as ideias erradas de que as pessoas se auto mutilam para manipular outros ou situações, atrair atenção, fingir o suicídio ou que pertencem a subculturas, uma vez que estas ideias podem conduzir a atitudes negativas e estigma por parte da comunidade.
  1. Utilizar linguagem apropriada. Não usar coloquialismos ou terminologia fora do contexto. Associar a automutilação a “modas” ou a “fases” pode minimizar a gravidade do problema. Separar a pessoa do seu comportamento, através da utilização de rótulos para descrever as pessoas como “auto mutiladores” pode aumentar o estigma.
  1. Incluir informação que facilite a procura de ajuda: oferecer opções de apoio para pessoas que possam viver com este problema ou que queiram procurar ajuda no seguimento da história.
  1. Destacar as consequências adversas da automutilação (por exemplo, lesão cerebral, paralisia) pode desencorajar tentativas de imitação.

O suicídio é um problema de Saúde Pública com enormes consequências emocionais, sociais e económicas. Existem aproximadamente 1 milhão de suicídios por ano em todo o mundo, e estima-se que pelo menos seis pessoas sejam afectadas por cada uma destas mortes. Em Portugal, estima-se que, por ano, morram cerca de duas mil pessoas por suicídio, um número abaixo do número real, já que muitos casos serão registados como mortes violentas indeterminadas, acidentes ou mortes de causa natural não especificada.

Algumas destas mortes por suicídio atraem a atenção dos Media, nomeadamente quando estão relacionadas com uma pessoa socialmente proeminente, quando acontecem num espaço público ou estão conectadas com assuntos políticos e sociais.

No entanto, o suicídio é um assunto complexo que coloca aos Jornalistas um conjunto específico de desafios e a necessidade de encontrar um equilíbrio entre defender o “interesse público”, encorajar (porventura) comportamentos de risco e respeitar o processo de luto dos familiares.

Os Media podem desempenhar um papel importante ao influenciar as atitudes sociais relativamente ao suicídio e, potencialmente, as acções de pessoas mais vulneráveis. As investigações demonstram que enquanto algumas formas de reportar o suicídio têm sido associadas a um aumento das taxas de suicídio, outras, mais adequadas, têm contribuído para reduzir essas taxas.

Um documento publicado pela OMS, em 2008 (Preventing Suicide – A Resource for Media Professionals), sobre a cobertura dos Media relativamente ao comportamento suicida, verificou uma associação universal entre a cobertura dos Media e os comportamentos de imitação no que diz respeito ao suicídio: “os indivíduos vulneráveis podem ser influenciados a adoptarem comportamentos de imitação devido a reportagens sobre suicídio, sobretudo se estas forem extensas, proeminentes, sensacionalistas ou se descreverem explicitamente o método de suicídio”.

Pessoas mais vulneráveis e desesperadas podem ser influenciadas pelas reportagens sobre suicídio, particularmente se se identificarem com a pessoa retratada ou se o suicídio aparecer romantizado, glamourizado ou encarado como uma forma de agir “aceitável”. Por exemplo, quando os jovens ou as pessoas que vivem com um problema de Saúde Psicológica tomam conhecimento dos detalhes sobre o método usado num suicídio, através dos Media, podem acontecer mais mortes através da utilização do mesmo método. De forma semelhante, uma pessoa vulnerável, que de outra forma não tentaria o suicídio, pode identificar-se fortemente com uma característica particular da pessoa que morreu por suicídio e isso levá-la a acabar também com a sua própria vida.

Por outro lado, os Media também podem reduzir o impacto negativo das reportagens sobre suicídio se desempenhar um papel importante na educação do público sobre o risco de suicídio e a procura de ajuda. Uma cobertura sensível das histórias sobre suicídio pode contribuir para reduzir o tabu relativo ao suicídio e diminuir o estigma, encorajando as pessoas a procurarem ajuda.

 

Alguns Factos sobre o Suicídio

  • O suicídio causa mais mortes do que os acidentes de viação, particularmente até aos 35 anos;
  • Não existe uma explicação simples para o facto de alguém escolher morrer por suicídio e quase nunca se deve a um único factor. Os problemas de Saúde Psicológica constituem uma influência importante, assim como o abuso de álcool e drogas e os sentimentos de desespero e desesperança;
  • As pessoas que apresentaram comportamentos de automutilação e tentativas de suicídio no passado têm maior probabilidade de o fazerem novamente e, portanto, correm mais risco de morrer por suicídio;
  • Algumas pessoas que consideram morrer por suicídio podem dar algumas pistas ou mesmo declarar a amigos e familiares as suas intenções. Outras pessoas com pensamentos suicidas podem nunca o mencionar, não fornecendo qualquer tipo de pista ou indicação de que planeiam acabar com a própria vida;
  • A maior parte das pessoas que fazem tentativas de suicídio ou morrem por suicídio não contactam os serviços de saúde no mês anterior à tentativa ou morte por suicídio. Apenas metade das pessoas que morrem por suicídio já estiveram em contacto com um especialista em Saúde Psicológica;
  • Os problemas de Saúde Psicológica que podem levar uma pessoa a acabar com a sua própria vida são potencialmente tratáveis;
  • Várias características da forma como o suicídio é reportado pelos Media podem aumentar o risco dos comportamentos de imitação. Estas características incluem: informação sobre o método de suicídio, reportagens sobre suicídio proeminentes e repetitivas, suicídio de uma celebridade. Os jovens são os mais vulneráveis ao suicídio por imitação.

 

Recomendações e Boas Práticas

  1. Pensar sobre o impacto da reportagem ou história sobre suicídio na audiência. As histórias sobre suicídio podem afectar indivíduos vulneráveis ou familiares e amigos de pessoas que morreram por suicídio. É necessário assegurar que a história é realmente do interesse público. Pode ser útil consultar especialistas, nomeadamente Psicólogos, acerca do impacto de reportar um caso específico. Considerar ainda o número de histórias que saíram recentemente sobre suicídio, uma vez que proeminência destas histórias pode aumentar o risco de suicídio em indivíduos vulneráveis.
  1. Assegurar que a morte por suicídio foi confirmada por fontes oficiais, de forma que a reportagem não alimente especulações.
  1. Sempre que possível, obter o consentimento informado dos familiares da pessoa que morreu por suicídio antes de a identificar, utilizar imagens suas ou do funeral.
  1. Respeitar familiares e amigos de pessoas que morreram por suicídio. A decisão de entrevistar alguém que está de luto pela morte de um familiar ou amigo por suicídio não deve ser tomada sem reflexão. Pessoas que tenham perdido alguém desta forma correm, elas próprias, um risco maior de suicídio, estão vulneráveis e a lidar com a dor. Podem ainda sentir raiva, emoções ambíguas e sentimentos contraditórios. A sua privacidade deve ser sempre respeitada.
  1. Focar as reportagens e histórias sobre suicídio na perda que representa a morte da pessoa, no seu impacto nos familiares e amigos, nos factores de risco para o suicídio e nas opções de procura de ajuda.
  1. Evitar a sobre simplificação das causas de um suicídio. É importante não desvalorizar as realidades complexas e diversas do suicídio, assim como o seu impacto devastador nos familiares e amigos. Por exemplo, evitar sugerir que um acontecimento único, como a perda do emprego, o fim de um relacionamento ou o luto, foi a causa do suicídio. Os factores que levam a um suicídio são múltiplos e complexos e não devem ser reportados de forma simplista. Os problemas de Saúde Psicológica constituem um preditor forte do suicídio, assim como a impulsividade. No entanto, factores culturais e socioeconómicos também devem ser levados em consideração. O suicídio nunca deve ser retratado como uma forma de lidar com problemas pessoais.
  1. Evitar representações melodramáticas do suicídio e das suas consequências. É necessário ter algum cuidado ao enfatizar as expressões de dor de uma comunidade afectada pelo suicídio. Ao fazê-lo pode estar a sugerir-se que as pessoas estão de alguma forma a honrar o comportamento suicida em vez de lamentar uma morte. Uma peça sensível que explore a devastação emocional do suicídio na família e amigos pode fazer com que pessoas que têm pensamentos suicidas reconsiderem e/ou procurem ajuda.
  1. Limitar tanto quanto possível a descrição sobre o método de suicídio utilizado. Os detalhes sobre os métodos de suicídio podem levar a que indivíduos mais vulneráveis os imitem. Desta forma, é recomendável:
    • Evitar dar detalhes sobre o método de suicídio. É aceitável dizer que alguém se enforcou ou morreu por overdose de medicamentos. No entanto, detalhes sobre o tipo de nó usado no enforcamento, tipo e quantidade de medicamentos usados, não são. Evitar qualquer menção ao método nas headlines, uma vez que isso pode promover e perpetuar métodos comuns de suicídio.
    • Ter um cuidado especial quando se reportam factos de casos em que foi utilizado um método de suicídio incomum ou desconhecido. A incidência de utilização de métodos incomuns ou novos de suicídio aumenta rapidamente depois destes terem sido reportados pelos Media. Este tipo de reportagem também pode levar a que as pessoas procurem na internet mais informação sobre esses métodos.
    • Recordar que existe um risco de comportamentos de imitação devidos à sobre identificação com a pessoa que morreu por suicídio. Alguns indivíduos vulneráveis podem identificar-se com a pessoa que morreu ou com as circunstâncias nas quais acabou com a sua vida, nomeadamente no caso de celebridades. O suicídio de uma celebridade pode ter grande valor noticioso, mas deve ser alvo de um relato cauteloso, factual, sem o glorificar, sensacionalizar ou romantizar. Por exemplo, combinar referências a circunstâncias de vida (um problema de dívidas ou desemprego) e descrições de métodos de suicídio fáceis de copiar, na mesma história, pode significar um risco de suicídio maior para pessoas que estão em situação de vulnerabilidade devido a stresse financeiro. Embora, por outro lado, a simplificação excessiva das causas do suicídio deva ser evitada (por exemplo, quando existe uma história de abuso de álcool ou drogas deve ser claramente indicada).
    • Evitar dizer que um método é fácil, rápido, indolor ou que resulta com certeza na morte. Evitar reportar qualquer aspecto que seja imediato ou fácil de imitar, especialmente quando os ingredientes ou instrumentos envolvidos forem de fácil acesso.
  1. Procurar realizar uma cobertura não sensacionalista do suicídio:
    • Alguns suicídios atraem intensamente o escrutínio público. Contudo, sempre que possível, é de evitar colocar a história numa posição proeminente e repeti-la.
    • Não rotular determinados locais como “hot spots” ou referir o possível aumento de suicídio em determinado local. Não referir o aumento de suicídios entre pessoas de determinado grupo como uma “epidemia” ou evitar expressões sensacionalistas e imprecisas como “capital do suicídio”. Duas ou mais pessoas que acabem com a sua própria vida e que, por exemplo, vivem na mesma área geográfica, pode ser apenas coincidência. Evitar a implicação de que pode existir uma conexão entre os dois suicídios.
    • Não promover a ideia de que um suicídio consegue atingir qualquer tipo de resultados. Por exemplo, que em resultado de alguém ter acabado com a sua própria vida, um bully foi exposto ou pediu desculpa.
    • Escrever cuidadosamente as headlines, reflectindo sobre o potencial impacto do seu conteúdo. Avaliar se a headline dramatiza a história, refere o método ou usa termos sensacionalistas. Por exemplo, a notícia não deve aparecer na primeira página de um jornal e o método não deve ser mencionado no título.
    • Evitar reportar os conteúdos de uma nota ou carta de suicídio.
  1. Escolher cuidadosamente a linguagem a utilizar. É importante pensar sobre a terminologia a utilizar quando se reportam situações de suicídio, evitando linguagem que contribua para o sensacionalismo ou normalização do suicídio. Linguagem inapropriada ou descuidada pode perpetuar o estigma ou contribuir para o sensacionalismo associado a uma morte por suicídio. Uma linguagem correcta e adequada pode ajudar a equilibrar a cobertura da história e minimizar o sofrimento dos familiares e amigos.

 

Alguns exemplos:

    A EVITAR   A UTILIZAR
Apresentar o suicídio como o resultado indesejado “suicídio bem-sucedido”
“suicídio falhado”
“morte por suicídio”
“faleceu por suicidio”
“acabou com a própria vida”
Potencialmente associar o suicídio a um crime ou um pecado “cometeu um suicídio” “morte por suicídio”
“faleceu por suicídio”
“acabou com a própria vida”
Sensacionalizar a notícia de suicídios “epidemia de suicídios” “aumento da taxa de suicídio”
Glamorizar uma tentativa de suicídio “suicídio falhado”
“tentativa mal-sucedida”
“grito de ajuda”
“propenso ao suicídio”
“tentativa de suicídio”
Uso gratuito do termo suicídio “suicídio político”
“missão suicida”
(não utilizar o termo fora do seu contexto)
  • Ter cuidados extra na escolha e colocação de imagens relacionadas com a reportagem de um suicídio. Por exemplo, avaliar se é realmente necessário colocar uma fotografia da pessoa que morreu e evitar repetir a utilização de imagens da pessoa que morreu, por exemplo, através de galerias online. Evitar ainda o recurso à utilização de imagens de alguém que morreu anteriormente por suicídio, para ilustrar histórias subsequentes sobre essa pessoa ou outra. Esta utilização de imagens pode causar muito sofrimento aos familiares enlutados.
    • Evitar imagens e filmagens dramáticas ou emocionais, como por exemplo, uma pessoa numa ponte ou num precipício. Tentar não ilustrar a reportagem com locais específicos, sobretudo se forem locais onde já ocorreram suicídios.
  1. Escolher adequadamente as “estatísticas”. Ao usar dados sobre tendências nas taxas de suicídio, é preferível escolher períodos temporais de três ou mais anos para identificar padrões que sejam significativos.
  1. Homicídio seguido de Suicídio: os homicídios seguidos de suicídio são fenómenos raros que, não obstante, atraem intensamente a atenção dos Media. As circunstâncias deste tipo de mortes podem ser dramáticas e perturbadoras, por isso, as reportagens devem seguir as recomendações anteriores. São necessários cuidados especiais uma vez que os comportamentos de imitação também se aplicam aos homicídios seguidos de suicídio.
  1. Educar o informar o público acerca do suicídio:
    • Existem várias ideias erradas acerca do suicídio e os Media podem desempenhar um papel importante na dissipação de vários mitos.
    • Sempre que possível incluir referências sobre assuntos relacionados com o suicídio, como por exemplo, factores de risco tais como o abuso de álcool ou os problemas de Saúde Psicológica. Debater também o impacto duradouro que o suicídio de alguém pode ter nos familiares e amigos. Discutir este tipo de assuntos pode promover uma melhor compreensão da realidade do suicídio.
    • Incluir referências à possibilidade de prevenir o suicídio e acrescentar fontes de apoio e formas de procurar ajuda. Oferecer informação sobre como contactar fontes locais e nacionais de apoio pode encorajar pessoas que experienciam problemas emocionais ou pensamentos suicidas a procurar ajuda. Pode salvar vidas.
  1. Reconhecer que os próprios profissionais dos Media podem ser afectados por histórias acerca do suicídio. Preparar uma história sobre suicídio pode mexer com as experiências dos próprios Jornalistas. Os profissionais dos Media não devem hesitar em procurar ajuda dentro ou fora da organização em que trabalham se forem de algum modo adversamente afectados.

 

Recomendações e Boas Práticas para os Digital Media

  1. Fontes: ter cuidado redobrado quando se utilizam fontes online para uma história sobre suicídio. A especulação sobre uma morte e as suas circunstâncias pode ser facilmente deturpada ou indevidamente repetida como sendo verdade. A circulação instantânea e viral da informação online torna ainda mais importante verificar várias vezes a fiabilidade das fontes de informação.
  1. Salas de Chat: ter cuidado e evitar utilizar conteúdos provenientes de salas de chat, websites pro-suicídio e outros fóruns online. Pode ser perigoso para pessoas vulneráveis, levá-los a esse tipo de fontes e perturbador para familiares que sofreram a perda de alguém por suicídio.
  1. Referenciar websites: as redes sociais, alguns blogs e websites podem ser utilizados para elogiar ou guardar as memórias de uma pessoa que morreu por suicídio. É preciso ter bastante cuidado em referenciar esses sites, especialmente quando se referem a jovens, uma vez que podem associar o suicídio a algum glamour.
  1. Evitar focar as comunicações apenas nas consequências do suicídio. Os esforços de prevenção são mais bem-sucedidos quando são partilhadas histórias positivas de esperança e recuperação, assim como exemplos de apoio e ajuda.
  1. Imagens e vídeos: considerar o impacto nos familiares e amigos da utilização de imagens ou vídeos retirados de redes sociais para ilustrar uma história.
  1. Apoio: adicionar links para fontes de apoio e ajuda, sempre que possível.

Terrorismo

Quanto maior e mais violento for o acto de terrorismo, maior é a probabilidade de receber atenção dos media. Os media acabam por ser vitais para os terroristas, uma vez que lhes fornecem um meio importante para atrair a atenção do público e espalhar a sua mensagem. Uma vez que existe uma correlação forte entre a proeminência de um assunto nos media e a importância que lhe é dada pelo público, quanto maior for a saliência do terrorismo nos media, maior é a importância do terrorismo na opinião pública.

Estudos recentes sugerem que, independentemente de qualquer exposição directa, a exposição a acontecimentos violentos ou a notícias sobre terrorismo nos Media constitui um preditor de uma Saúde Psicológica e física mais precárias, incluindo sintomatologia associada a stress pós-traumático, stress agudo e problemas cardiovasculares.

Deste modo, se por um lado os media podem alimentar o terrorismo, por outro lado, também podem desempenhar o efeito contrário. Como é possível os media reportarem o terrorismo de forma a prevenir ou a diminuir o efeito psicológico que os actos terroristas têm no público? Existem algumas regras ou princípios de boas práticas que podem ajudar e que passam pelo enquadramento e pelas metáforas associadas ao terrorismo.

O uso de figuras linguísticas como a metáfora pode influenciar a percepção do público acerca do terrorismo. As metáforas estruturam a forma como as pessoas definem um fenómeno e dessa forma influenciam também a forma como lhe reagem. Por exemplo, após os ataques de 11 de Setembro, as metáforas que aparecem nos media enquadram o terrorismo como uma guerra – “actos de guerra”, “guerra contra o terrorismo”. Uma forma mais útil (no sentido de reduzir o medo do terrorismo) de se enquadrar o terrorismo seria como um acto criminoso – a luta contra o terrorismo não é uma guerra, mas a prevenção de um crime, a aplicação da lei e a vitória da justiça sobre actos criminosos contra inocentes.

Exemplos de outras estratégias possíveis:

  • Os media devem e têm de reportar dados objectivos sobre os movimentos terroristas, as suas relações com pessoas importantes e possíveis ameaças reais de organizações terroristas. No entanto, devem fazê-lo reportando actos e histórias sobre terrorismo da mesma forma e atribuindo a mesma importância que atribuem a qualquer outra história ou temática;
  • Evitar a repetição de cenas e imagens violentas e potencialmente traumatizantes para o público (por exemplo, bombas a explodir, pessoas feridas ou mortas). Menos sensacionalismo e mais informação e prudência;
  • Evitar a repetição de palavras como “catástrofe” ou “pânico” e especulações sobre o que se seguirá a determinado acontecimento;
  • Uma vez que um dos objectivos dos terroristas é desinformar o público e explorar a incerteza, o medo e a suspeita, os media devem proporcionar informação clara, factual e o mais imparcial possível, utilizando uma linguagem simples que todos entendam;
  • Uma vez que os grupos terroristas são diferentes, os media devem diferenciar os diferentes tipos de terrorismo e grupos terroristas e evitar dicotomias (nós versus eles) de forma a não mobilizar o público contra certas minorias étnicas e/ou religiosas;
  • Proporcionar fóruns de discussão sobre as implicações sociais e políticas do terrorismo, assim como para o desenvolvimento de procedimentos e medidas contra o terrorismo;
  • Transmitir medidas de precaução e instruções sobre como proceder em situações perigosas.

 

Violência Sexual e Violência Doméstica

São cada vez mais frequentes as reportagens sobre violência sexual e/ou violência doméstica. Estas histórias podem ter um impacto positivo ou negativo no público conforme forem reportadas. Se não forem escritas de forma precisa e contextualizada, estas histórias podem causar danos adicionais às vítimas (vergonha pública, vitimização, perpetuamento de estereótipos de género e aceitação social da violência, por exemplo).

Por estes motivos uma atenção delicada e diligente aos temas relacionados com a violência sexual e doméstica podem contribuir para informar o público sobre esta realidade: o que é a violência sexual e doméstica, quais são as tendências, o que contribui para a violência e como podemos ajudar a evitá-la.

Em primeiro lugar é necessário ter cuidado com a linguagem utilizada – as palavras reflectem pressupostos subliminares acerca da responsabilidade, culpa e agência, assim como acerca da natureza da violência. As palavras reflectem e geram ideias culturais acerca da violência. Quando a linguagem utilizada acerca da violência sexual ou doméstica é vaga, desnecessariamente erótica e/ou implica que as pessoas alvo desta violência carregam parte da culpa, constroem-se ideias erradas acerca da responsabilidade dos ofensores e do sofrimento dos envolvidos. Violação não é “sexo” – dizer “o homem manteve relações sexuais com a menor” implica uma responsabilidade activa por parte da criança e torna vaga a exclusiva culpabilidade moral e legal do ofensor. Para além disso, descrever a violação utilizando termos associados a actos de prazer consensuais minimiza e esconde a verdadeira violência, torna mais difícil ao leitor compreender os actos como violação e permite à sociedade racionalizar, justificar e desculpar a violência sexual. Um padrão de abuso não é equivalente a “ter um caso”. Nem a violação nem o assédio sexual são sob qualquer ponto de vista consideradas actividades sexuais normais. O tráfico humano não deve ser confundido com prostituição. As pessoas que sofreram violência sexual ou doméstica podem não querer ser descritas como “vítimas” e não “confessam” ou “admitem” terem sido “vítimas de violência” (expressões alternativas mais adequadas podem ser “revelam” ou “partilham”). A expressão “foi violada” pressupõe um violador invisível e não torna explícito que houve alguém responsável. Uma expressão alternativa que procura focar a atenção na pessoa que cometeu o crime poderia ser, por exemplo, “a mulher relatou que um homem a violou”.

Os media devem proporcionar uma informação fidedigna sobre a violência sexual e doméstica de forma a melhorar a compreensão do público sobre esta temática. Oferecer detalhes ou descrições do acto de violência sexual, por exemplo, não é necessário para compreender os factos e ainda pode dramatizar, minimizar ou justificar os actos perpetrados. Os media podem ajudar a aumentar a consciência da sociedade para estas problemáticas publicando informação acerca da prevalência e características da violência sexual e doméstica, as causas e factores de risco, assim como as consequências para os indivíduos e a sociedade. Ao focarem-se as causas e custos sociais deste fenómeno, os mediam podem contribuir para enquadrar a violência sexual e doméstica como um problema de saúde pública que diz respeito a todos os membros da sociedade.

Usar os comentários de pessoas próximas aos indivíduos envolvidos na violência sexual ou doméstica tem um valor muito limitado para informar o público sobre esta realidade. Em vez disso, a prática recomendada é consultar peritos na matéria (por exemplo, Psicólogos e investigadores).

Aquando de uma entrevista a pessoas que sofreram violência sexual ou doméstica é necessário compreender que são experiências sobre as quais é difícil falar e respeitar quando os entrevistados não quiseram falar sobre o tema. As mulheres sentir-se-ão mais à vontade se a entrevistadora for também uma mulher. Nalguns contextos a mera suspeita de ter sido violada pode levar a humilhação, ostracismo e mais violência, nesse sentido é necessário ponderar se entrevistar alguém pode colocar mais riscos e comprometer a sua segurança e a privacidade.

Durante a entrevista, explicar o tipo de história que se pretende escrever pode ajudar a construir confiança com o entrevistado. Se a entrevista for filmada, a equipa deve ser reduzida ao mínimo de pessoas indispensável. Procure ouvir atentamente sem fazer qualquer tipo de julgamento ou de alguma forma implicar que o entrevistado é de qualquer modo responsável pelo que lhe aconteceu (a violência sexual e doméstica são altamente associadas a auto culpabilização e vergonha). Não se surpreenda se a história parecer mal explicada ou fragmentada – é frequente as pessoas que sofreram este tipo de violência fecharem-se emocionalmente e bloquearem parte ou mesmo todos os acontecimentos. Evite dizer “sei como se sente”, na verdade não sabe. Em vez disso pode reconhecer o quão difícil deve ser para a pessoa.

Antecipe o impacto da publicação. Considere deixar o entrevistado ler o que escreveu previamente à publicação, para minimizar o impacto da exposição pública e corrigir eventuais erros.

Por último, os media devem proporcionar informação sobre recursos disponíveis e encorajar a procura de ajuda. Sempre que possível devem publicar informação sobre como proteger ou ajudar alguém alvo de violência sexual e/ou doméstica. Por exemplo, o que se deve fazer quando suspeitamos que uma criança foi sexualmente abusada ou como podemos ajudar alguém que vive uma situação de violência doméstica e que recursos existem disponíveis na comunidade.

 

Homicídio-Suicídio

Existem diferentes tipos de homicídio-suicídio, por exemplo, homicídio do/a companheiro/a seguido de suicídio ou homicídio de um filho seguido de suicídio. Embora os homicídios-suicídios sejam raros tendem a receber uma atenção desproporcionada por parte dos Media.

As razões que levam alguém a cometer um homicídio-suicídio são extremamente complexas e podem incluir inveja mórbida; problemas familiares, financeiros ou sociais; retaliação ou vingança; misericórdia – matar devido a problemas de saúde; fantasias de salvação; tentativa de escapar a algum problema; doença mental; abuso de álcool ou drogas; disputas relativamente à custódia de filhos.

As boas práticas a seguir neste tipo de situações são as mesmas que se devem seguir em casos de suicídio. Tal como com os suicídios, existem algumas evidências de que as reportagens sobre homicídios-suicídios podem gerar comportamentos de imitação. E tal como nos suicídios a natureza chocante dos homicídios-suicídios podem causar um impacto traumático duradouro nas comunidades onde acontecem.

É fundamental adoptar uma abordagem sensível a esta temática e disseminar informação sobre os recursos disponíveis, encorajando as pessoas a procurar ajuda precocemente. O suicídio e o homicídio-suicídio são, em muitos casos, fenómenos possíveis de prevenir, quando é prestado o apoio necessário.

  1. Utilizar fontes credíveis e fiáveis quando se trata de assuntos relacionados com a Saúde Psicológica. A informação espalha-se muito rapidamente online, por isso é necessário garantir que não se espalha informação incorrecta e de fontes que podem ser questionáveis. Geralmente, as fontes mais fiáveis incluem associações profissionais ou revistas científicas, por exemplo.
  1. Analisar todo o conteúdo antes de retweetar ou partilhar um link: avaliar se o conteúdo do que se partilha contém ideias incorrectas, estigmatizantes ou perigosas.
  1. Analise o conteúdo em função de objectivos de promoção da Saúde Psicológica. Antes de publicar um conteúdo reflicta de que forma o pode utilizar para combater o estigma e a discriminação, para aumentar os comportamentos de procura de ajuda, para encorajar as pessoas a ajudar familiares e amigos com dificuldades e problemas de Saúde Psicológica.
  1. As interacções sociais com pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica são a forma mais eficaz de reduzir o estigma: utilizar os Social Media para falar abertamente acerca de experiências na primeira pessoa pode ajudar a aumentar a compreensão dos problemas de Saúde Psicológica.
  1. Partilhar histórias positivas sobre recuperação, em vez de publicar apenas conteúdos negativos relacionados com a Saúde Psicológica.
  1. Quando alguém publica conteúdo depreciativo ou estigmatizante, considere tomar uma posição. Tem o poder de influenciar a forma como alguém pensa sobre as pessoas que vivem com problemas de Saúde Psicológica. Se for uma celebridade ou a conta de uma empresa, a oportunidade de marcar a diferença é ainda maior. Em vez de atacar, explique de que forma o post pode ser prejudicial.
  1. Utilize hashtags adequadas de forma a tornar o post fácil de encontrar, seguir e partilhar. Por exemplo, #SaúdePsicológica ou #ProblemasdeSaúdePsicológica.
  1. Não partilhar informação sobre outras pessoas sem a devida permissão. Mesmo que alguém já tenha assumido publicamente o seu problema de Saúde Psicológica reflicta sobre se deve e como deve partilhar essa informação.
  1. Desenvolver políticas e procedimentos para realizar comentários de forma segura nos posts das suas redes sociais.
  1. Considere adicionar um Alerta – “Conteúdo Sensível” ou “Conteúdo Potencialmente Sensível para quem tem Problemas de Saúde Psicológica” – quando escreve ou partilha imagens, histórias ou outros conteúdos que, potencialmente, possam provocar uma resposta psicológica dolorosa (por exemplo, materiais sobre situações de violação ou abuso sexual, situações de violência física ou emocional, automutilação e suicídio, situações de guerra e conflito…). Utilize a estratégia “Leia mais”, para que apenas quem esteja disposto a aceder ao conteúdo, clique e o leia.
  1. Colabore com influenciadores digitais no sentido de promover conteúdos de promoção da Saúde Psicológica.
  1. Sempre que publicar um conteúdo sobre problemas de Saúde Psicológica, inclua um disclaimer indicando que o conteúdo que publicou não substitui a procura e a consulta de ajuda profissional. Sempre que possível ofereça recursos adicionais a quem esteja em crise ou precisa de ajuda (“Ligue para a Linha de Aconselhamento SNS24 ou procure a ajuda de um Psicólogo”, por exemplo).

Para além do impacto na Saúde Física, a Pandemia COVID-19 impacta a Saúde Psicológica, nomeadamente através do agravamento ou desenvolvimento de dificuldades e problemas de Saúde Psicológica (e.g. perturbações de ansiedade e do humor, perturbação de stresse pós-traumático ou suicídio), bem como o aumento dos conflitos familiares, da violência sexual e da violência doméstica.

A incerteza é um dos desafios psicológicos deste tempo de pandemia. Adicionalmente, no contexto de uma crise de saúde pública sem precedentes, é expectável que os sentimentos de ansiedade, stress e medo também se intensifiquem. A exposição elevada e constante a informações e noticias sobre a evolução da situação pandémica (e.g., sobre o número de infectados, número de óbitos, dificuldades nos sistemas de saúde, desenvolvimentos esperados), nem sempre fidedignas e por vezes até contraditórias, bem como os constrangimentos associados a esta situação (e.g., isolamento, problemas financeiros), constituem certamente um risco elevado para a Saúde Psicológica, que poderá traduzir-se no aumento potencial de sintomas e problemas de Saúde Psicológica, agora e após o período de pandemia.

Dada a complexidade da actual situação, comunicar sobre ela é um desafio para os profissionais dos Media. No entanto, algumas recomendações práticas podem apoiar os meios de comunicação a fazê-lo de uma forma transparente, honesta, fidedigna e eficaz e, ao mesmo tempo, promotora da confiança, da capacidade de adaptação e da auto-eficácia dos cidadãos.  Comunicar e escrever sobre os temas relacionados com a pandemia é também uma oportunidade para os Media de provocar mudanças sociais significativas.

Num contexto em que a mudança comportamental é essencial para uma resposta eficaz, os Media têm um papel crucial no apoio e promoção da adopção de medidas de saúde pública nos níveis individual e comunitário, de acordo com as recomendações das autoridades de saúde. Na circunstância excepcional em que nos encontramos, os Media podem ter um papel importante na normalização de afectos negativos, transmitindo que estes são expectáveis e naturais. Podem ainda alertar para o potencial impacto da presente situação na Saúde Psicológica, para o previsível aumento de problemas de ansiedade ou de depressão, bem como para a comunicação de soluções de prevenção, detecção e intervenção que têm vindo a ser desenvolvidas (por exemplo, a criação da Linha de Aconselhamento Psicológico no SNS24).

 

Recomendações Gerais

  • Privilegiar declarações e acções das autoridades de saúde e órgãos governamentais como fontes primárias da informação. São as informações provenientes das fontes oficiais e autoridades de saúde, aquelas que podem efectivamente ajudar a população e diminuir a ansiedade e o medo. A desinformação deve constituir uma preocupação significativa. Contribuir para construir confiança nas instituições e porta-vozes oficiais pode atenuar os riscos potenciais da desinformação e de mensagens conflituantes, além de criar um ponto focal claro para aceder a informações sobre a pandemia.
  • Procurar os comentários ou recomendações de profissionais credenciados, no que respeita a áreas relacionadas não apenas com a saúde física e psicológica (e.g., médicos, psicólogos), mas também da epidemiologia, economia, sociologia, etc.
  • Procurar suportar sempre as notícias com factos, estatísticas e outras informações fiáveis, recorrendo a fontes credíveis (e.g., literatura científica, autoridades de saúde). Utilizar uma linguagem simples e centrada em aspectos práticos e exemplos reais que possam enfatizar o sentimento de esperança e promover a autonomia e a resiliência.
  • Colaborar na comunicação adequada do nível de risco, apostando numa estratégia de educação pública que comprometa os cidadãos como parceiros no plano de resposta à situação, para que a mensagem seja rapidamente ancorada na perspectiva do receptor. A comunicação de risco deve evitar o sensacionalismo a todo o custo e ser centrada na pessoa. São úteis verbalizações como: “O que você deve saber é…” ou “Preparámos um conjunto de recomendações para si”.
  • Procurar um equilíbrio entre informação negativa (e.g., estatísticas sobre os óbitos ocorridos) e informação sobre acontecimentos positivos (e.g. doentes recuperados, manifestações de solidariedade), por forma a permitir ao público perceber eficácia das medidas recomendadas, do ponto de vista da protecção individual e comunitária, de justificar a tomada de decisão e incentivar a confiança e a adesão às recomendações das autoridades de saúde. As boas notícias humanizam o conteúdo da informação.
  • Comunicar de modo inclusivo, dirigindo informação específica a populações mais vulneráveis (e.g., grupos de alto risco, sem-abrigo, população socialmente isolada, imigrantes, cidadãos com dificuldades de leitura ou auditivas, etc.), especialmente para aqueles que poderão ter dificuldades na utilização de recursos-padrão. Promover a disponibilização de recursos COVID-19 actualizados, simples e intuitivos (e.g., vídeos, anúncios televisivos, infogramas), para que todos os tipos de público possam aceder facilmente à informação.
  • Evitar o reforço de estereótipos e mitos sobre a COVID-19, apostando em títulos, leads e rodapés claros e directos, diminuindo assim o risco de associar a doença a histórias sensacionalistas, contribuir para narrativas discriminatórias e de reforçar o estigma. Evitar a utilização de linguagem estigmatizante e alarmista, substituindo, por exemplo, a expressão “infectado” ou “vítima” por “portador da doença”.
  • Cuidar da própria saúde mental. Os profissionais dos media sofrem, neste momento, um agravamento da exigência de uma profissão, já por si própria, desgastante. Quando cobrem crises e entrevistam as pessoas afectadas pela pandemia, os profissionais dos media enfrentam a responsabilidade de não causar danos adicionais às vítimas e, ao mesmo tempo, manter a sua Saúde Psicológica. É natural que se sintam ansiosos, desgastados ou sobrecarregados. Descanse, faça pausas, alimente-se de forma saudável, faça exercício físico regular, mantenha contacto com familiares e amigos e procure ter tempos para actividades de lazer como ver um filme ou série ou ler um livro.

 

Comunicar sobre Perturbações da Ansiedade e do Humor

Na circunstância excepcional em que nos encontramos, os Media podem ter um papel importante na normalização de afectos negativos, transmitindo que estes são expectáveis e naturais. A ansiedade pode, numa situação de pandemia, tornar-se endémica – decorrente do medo de ser infectado, de sofrer, de morrer, de perder o emprego, etc.

Também é desejável que os Media alertem para o potencial impacto da presente situação na Saúde Psicológica, para o previsível aumento de problemas de ansiedade ou de depressão, bem como para a comunicação de soluções de prevenção, detecção e intervenção que têm vindo a ser desenvolvidas para este contexto específico (por exemplo, a criação da Linha de Aconselhamento Psicológico no SNS24).

 

Comunicar sobre a morte e o luto

Um dos aspectos mais difíceis da crise pandémica prende-se com o número de mortes que tem provocado em todo o mundo. Se o medo de morrer é humano e algo que sempre nos acompanha, ele é agora agravado pelo receio de ser infectado e morrer na sequência de infecção por COVID-19, ou ver os mais próximos adoecer e morrer. Adicionalmente, as normas sobre cuidados pós-morte divulgadas pela Direcção Geral da Saúde (DGS), que instituíram uma série de procedimentos específicos para lidar com as mortes por COVID-19, podem agora complicar os processos de luto. Também nesta dimensão, o papel da comunicação social e dos Media é importante, quer na promoção de processos de luto individual e familiar adaptativos, quer na dimensão mais lata e abstracta do luto comunitário.

  • Optar por uma comunicação humanizadora. A comunicação dos óbitos por COVID-19 deve ser simples e centrada nos factos, evitando adjectivações ou comentários. Sendo imperativo informar sobre o número de vítimas, é também fundamental para a comunidade que essas vítimas tenham um rosto, e não sejam apenas uma estatística. A comunicação de eventos críticos (e.g., aumento do número de casos, óbitos, constatação da escassez de recursos) pode automaticamente aumentar as emoções negativas.
  • Ter especial cuidado com a utilização de imagens. Determinadas imagens aumentam o sentimento de medo da população e provocam um extremo sofrimento às famílias já em luto. Por exemplo, a exibição frequente, por referência ao número de óbitos nos vários países, de salas com caixões acumulados, imagens de cemitérios, necrotérios improvisados, etc. é desnecessária pois, não acrescentando nada ao conteúdo negativo, podem aumentar a ansiedade da população e o sofrimento das famílias enlutadas.
  • Evitar a cobertura exaustiva e sensacionalista de óbitos concretos, por exemplo, no caso de uma celebridade que tenha falecido por COVID-19.

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